Por onde eu começo a investir? (Parte 2 de 5)




Por Otmar Schneider e Helon Florindo

Na primeira parte da série mostramos que o primeiro investimento a ser feito é em conhecimento e a importância dele no julgamento do investidor para a construção de sua carteira previdenciária.

Aqui vamos falar sobre a importância do equilíbrio financeiro antes de iniciar nos investimentos


Antes de tudo, pague suas dívidas.

Parece estranho ter que falar para as pessoas começarem a investir depois de pagar suas dívidas. Pois é... por incrível que pareça algumas pessoas acham que esse passo não é tão importante, principalmente se as contas estiverem equilibradas.

Muita gente pensa que o importante é "seguir um orçamento". Tipo seguir uma dieta. Cortar o supérfluo radicalmente e anotar todos os gastos. Bem, isso até funciona no curto prazo, mas a verdade é que a maioria das pessoas não tem a disciplina necessária para fazer isso por muito tempo. Esse é o motivo pelo qual muitos orçamentos e/ou dietas sempre falham.

A situação financeira de uma pessoa é, na realidade, um reflexo do seu comportamento, dos seus valores e das suas crenças mais íntimas. Parece abstrato demais, mas você vai entender melhor daqui a pouco.

Quando as dívidas são muitas e a pessoa não consegue nem pagar as contas em dia, normalmente não sobra nada para investir. Tudo que entra vai para pagar as faturas, boletos e carnês. A pessoa vive para pagar contas e juros.

Quando as dívidas estão equilibradas, ou seja, a pessoa consegue pagar as contas de seu consumo, sem atraso, ela está estagnada do ponto de vista de acumulação de patrimônio. Normalmente essa situação de equilíbrio é alterada com uma despesa extra ou um evento adverso (acidente ou doença, por exemplo). Outro fator que pode atrapalhar esse equilíbrio é o efeito da inflação de preços.

Outras pessoas pagam suas contas mensais e ainda sobra um pouco. Esses estão mais próximos de iniciar seus investimentos.

Para mudar a nossa situação financeira é preciso primeiro mudar crenças e mitos que temos sobre o dinheiro e a forma como lidamos com ele. É preciso entender e ser consciente da forma como gastamos e percebemos o dinheiro.

Como saber onde (e quem) eu (sou) estou? Vamos saber já, mas vamos antes falar um pouco sobre "fluxo de caixa".

Siga o fluxo do dinheiro

Antes de qualquer coisa você precisa saber quanto entra de dinheiro, quanto sai de dinheiro e principalmente para onde esse dinheiro vai. Vamos fazer, de uma forma bem simplificada, o seu acompanhamento de fluxo de caixa.

Faça uma planilha simples ou anote em um caderno as RECEITAS - todo dinheiro que entra em um período. Normalmente usamos a base mensal. Ela vai ser útil agora, mas depois vamos mudar isso.

Neste campo entra tudo: Salário, comissões, pro-labore, rendimentos de aplicações (se houver), mesada... tudo. Por aí que começamos.

Agora, faça uma com as DESPESAS. Aqui vão TODAS as despesas. TODAS MESMO - Aluguel/financiamento de imóvel, água, energia elétrica, escola, livros, combustível, ônibus, barbeiro/salão de beleza, padaria, restaurantes, roupas/calçados, estacionamento, seguros, dentistas, plano de saúde, assinaturas de serviços, celular... TUDO! Não esconda nada!

É importante colocar todas as despesas para que você identifique onde é o "ralo invisível" que leva o seu dinheiro. Nós estamos acostumados a fazer as contas grandes, mas não fazemos as contas dos cafezinhos, docinhos, salgadinhos e outras pequenas despesas que viram uma despesa enorme no final (e tiram parte da sua saúde aos poucos). 

Se fizer direito, você vai se surpreender...

Pronto. Agora você tem um diagnóstico do seu estado financeiro. Quanto entra, quanto sai e para onde o dinheiro vai. Esse é o fluxo de caixa da empresa SEU.CPF S/A.

Se o seu fluxo de caixa resultou em receitas maiores que despesas, dizemos que você está superavitário. Se deu igual, dizemos que você está equilibrado. Se deu negativo, dizemos que você está deficitário ou endividado (lascado, mesmo!!) no médio/longo prazo.

A maioria das pessoas está nesse último caso. Devendo. Isso acontece por diversos motivos. A maioria de nós poupa muito menos do que nossos pais poupavam. Isso acontece por diversos fatores, como, por exemplo, o fácil acesso ao crédito aditivado pelo consumismo da vida moderna

Nós vivemos em uma época tecnológica, com enorme apelo social ao consumo de equipamentos de ponta e extremo conforto. A pressão social para o consumo é enorme.

"OPA! Espera aí! Você está dizendo que eu tenho que ser o Tio Patinhas ou um monge para investir, meu camarada? E eu vou viver quando? Trabalho demais para não me presentear com aquele carrão ou aquela bolsa Michael Kors!". Calma... vamos chegar lá.

Vamos fazer um exercício simples de autoconhecimento. Te pedimos para ser honesto consigo mesmo e não julgar ou gerar remorsos, ok? 

Pegue uma calculadora e tente imaginar a quantidade de dinheiro que passou pelas suas mãos durante toda a sua vida até agora. Para facilitar o cálculo, faça uma proposição honesta. Não se preocupe em valores exatos nem atualização monetária. Estime com honestidade. Escreva. 

Feito isso escreva o seu patrimônio. Quanto você tem hoje em bens (veículos, casa, móveis, eletrodomésticos, etc) e seu saldo no banco. Se quiser, use sua declaração de imposto de renda para ajudar no cálculo.

Agora, faça o seguinte: Divida o seu patrimônio pela quantidade de dinheiro que você já recebeu na vida e multiplique por 100. Essa será a sua taxa de poupança aproximada.

Todo dinheiro que passou pelas suas mãos foi usado para pagamento de despesas (inclusive juros para aquisição de bens) e o que sobrou pra você, foi seu patrimônio acumulado

Existe uma grande chance de você já ter sido "milionário". O problema e que você não conseguiu reter esse milhão...

"Então eu só vou trabalhar, poupar e não vou aproveitar nada?". Não meu amigo(a) formiga! Eu não disse isso. Nós vamos otimizar e clarificar a sua visão sobre dinheiro. 

Um dos problemas de se explicar o valor do dinheiro para uma criança é que ela não tem noção de que um papel colorido vale alguma coisa e outro de outra cor ou desenho vale outra. O que nós, pais, fazemos, é atribuir um valor concreto ao dinheiro. Uma unidade de dinheiro vale, por exemplo, uma bala. A criança entende e fixa aquilo. 

Quando crescemos, o valor do dinheiro se torna cada vez menos concreto, por incrível que pareça. Uma unidade de dinheiro vale pouco. Cem mil unidades de dinheiro vale um carro. Vale uma casa. Vale uma viagem dos sonhos... Pior, entendemos que podemos parcelar, ou seja, pegar emprestado o dinheiro de alguém para satisfazer nosso desejo, antecipar o nosso sonho.

Nossa cultura atual nos ensina que dever é ter a liberdade de ter. Você precisa ter IMEDIATAMENTE aquele carrão reluzente ou o smartphone de última geração com aquela câmera que faz fundo desfocadinho para bombar no Instagram. Para isso, vamos dividir em suaves prestações para você, no seu cartão de crédito ou boleto.

Na verdade, o crediário (dívida em parcelas) é uma prisão. Uma compra te dá a satisfação imediata mas te aprisiona em uma dívida por um longo período (de 12, 60, 72 meses). Mesmo que você odeie o seu trabalho, você precisa mantê-lo, a qualquer custo, para pagar suas dívidas. Você trabalha para pagar coisas que estarão obsoletas quando você terminar de pagar.  

Pense assim: Você recebe um salário de R$ 2.000,00 e trabalha 40 horas por semana. Já vimos que "trabalhar significa vender tempo", ou seja, sua hora de trabalho vale R$ 11,36.

Você resolveu comprar um telefone celular por R$ 3.000,00 (nem é dos mais caros!). Você precisa trabalhar 264 horas (Um mês e meio) SÓ PARA PAGAR POR ELE. Será que vale? Quem me diz é você!

Quando você parcela, não está parcelando o preço que você paga, mas o TEMPO QUE VOCÊ VAI TRABALHAR para pagar o bem (ou serviço) que você comprou. Se o seu salário é menor que isso, vai precisar trabalhar mais tempo. Isso atinge a todos.

Talvez esse seja o maior motivo de infelicidade das pessoas tanto com altos, quanto com baixos salários. Quanto mais alto o salário, maior o padrão de vida e mais horas são necessárias para se trabalhar por coisas

E aí vem outro problema - O dia só tem 24 horas - e você precisa dormir, comer, se deslocar e fazer todas as outras atividades normais da vida humana. A dívida limita as suas opções. Quanto mais dívida você tem, mais tempo você precisa vender para pagá-las. 

Entendeu o ciclo? Como sair dele? Mudando o seu fluxo de caixa. O que vai para despesa, tem que ir para investimento.


Limpando a casa

O primeiro passo para iniciar o caminho da liberdade financeira é limpar a casa, literalmente.

Olhe as suas despesas e as distribua em categorias. O que é essencial (Habitação, saúde e transporte). O que é seu "estilo de vida" (TV por assinatura, telefone celular, hobbies, etc) e lazer (restaurantes, cinema, viagens, teatro).

Agora, a seu critério, estabeleça o quanto é o suficiente. Suficiente é o que supre a sua necessidade. Você realmente precisa de uma casa de 800 metros quadrados hoje? Precisa de 3 carros? Tem que sair todo dia para jantar fora? Só quem pode dizer isso é você. No entanto, se você não mudar alguma coisa, nada muda - você vai continuar vendendo seu tempo para pagar por coisas.

A gente ouve dizer que dinheiro não compra a felicidade, mas a mesma cultura nos empurra para a corrida "atrás" dele. Trabalhar duro para ter um futuro melhor, se dedicar aos estudos para fazer mais dinheiro... mas o outro lado da moeda não vem: o que fazer com o dinheiro. Quanto é suficiente para que eu possa trabalhar (vender tempo) e viver (aproveitar o tempo)?

Quem nunca pensou que "um aumento de salário" vai "resolver os seus problemas"? Quem nunca esperou um "13º." para trocar de carro? A imensa maioria das pessoas crê, de boa fé, que ter mais dinheiro, independente do quanto se tem, vai melhorar a sua vida.

As pessoas confundem a 'acumulação de coisas' com 'bem estar'. Coisas são passageiras. Coisas te trazem satisfação imediata. Coisas consomem o seu espaço, seu tempo  e energia. Coisas além do suficiente, são como aquela calça que você NUNCA usou. Aquele sapato que está no armário faz 3 anos e nunca viu a luz do sol, a não ser quando você foi naquela festa. Coisas são "coisas que você não usa", entendeu?

Não são coisas aquilo que você precisa e usa, de verdade, regularmente. E aquilo que agrega valor na sua vida. E aquilo que você gosta de ter por perto e tem sempre.

Nós preferimos descrever assim porque o que é bom para mim, pode não ser bom para você. Somos diferentes. temos valores diferentes para as mesmas coisas. O que é essencial para mim, pode não ser essencial para você.

A questão é atingir o ponto do suficiente para você. Esse é o nível de tolerância que vai te levar a poupar no longo prazo. Não te estrangula em uma dieta rígida de consumo. Você não "conta calorias". Quanto mais você conseguir poupar, independente do seu salário, mais rápido você vai chegar à independência financeira. E isto passa por uma mudança de mindset: saber o que realmente você precisa e o que é supérfluo, "engorda", ou apenas ocupa tempo e espaço em sua vida.

Na próxima postagem vamos tratar do que põe e tira dinheiro do seu bolso e como o seu patrimônio pode gerar renda para você.

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