Uma reflexão sobre o P/VP - Usar ou não usar? Eis a questão...

Por Otmar Schneider e Helon Florindo


Uma das primeiras dúvidas do iniciante em investimentos, seja em fundos imobiliários ou em ações, é saber se o ativo que deseja "comprar" está caro ou barato. Concomitantemente, entra em uma das suas primeiras "tretas" no mundo dos investimentos: O preço importa ou não importa?


Tem gente que advoga dos dois lados: Há quem diga que preço é importante sempre e há quem diga que se for esperar preço, nunca se investe e que, no longo prazo, isso não faz a menor diferença.



Outra abordagem prega duas outras correntes: Uma diz que o mercado é "eficiente", logo os ativos são bem precificados, enquanto outra diz o contrário, observando sempre as "oportunidades" de "comprar" um ativo "descontado".



Fato é que o "Valuation" de um negócio pode ser tão complicado quanto você queira que seja, mas vamos a uma visão particular do investimento na ótica do pequeno investidor pessoa física seja em fundos imobiliários ou em ações de empresas.

O Tal Valor Patrimonial


Começando com o conceito: O que é valor patrimonial? Valor patrimonial (de verdade) é a quantidade de bens mobilizados e imobilizados em um negócio. Aqui entram desde os bens de produção, os recursos financeiros, em caixa e recebíveis, até as marcas que possui um determinado negócio. Tudão.



Para não deixar todo mundo maluco, o estudo do VP, nesse caso, limita-se ao patrimônio líquido (ativos - passivos = PL) da empresa dividido pelo número de ações ou cotas que possua, dando um conforto espiritual para quem resolve olhar para essa informação. 



Exemplo: Um fundo possui 10.000.000 em patrimônio e possui 100.000 cotas o VP(a) dele é de 100.


O que é o P/VP(a)


A relação entre o preço da ação (cotação de mercado) dividido pelo Patrimônio Líquido da empresa por cota ou ação (ou fundo) em análise.



Essa "precificação" do VP é fruto de um cálculo com variáveis com metodologia não padronizadas para todas as empresas ou fundos imobiliários.



Um calcula com desconto de fluxo de caixa (FCD), outro compara com pares (avaliação horizontal) e outros com outras metodologias. Enfim, não tem padrão entre os ativos. 


O preço da ação ou cota é arbitrado pelo mercado. Não é caro, não é barato, não é justo e não é consenso - é preço na totalidade da palavra - é quanto alguém pagou pela cota (ou ação) NO ÚLTIMO NEGÓCIO feito em bolsa. Quanto maior a frequência de negócios, menos altos e baixos ele vai ter.



Para saber se existe uma "oportunidade", o investidor faz as contas e pode encontrar o seguinte:



VP(a) é de R$ 100,00

A ação ou cota está sendo negociada "descontada" do P/VP(a) - R$ 90,00

A ação ou cota está sendo negociada "no" do P/VP(a) - R$ 100,00 

A ação ou cota está sendo negociada "acima" do P/VP(a) - R$ 110,00


Tá. E daí? Só o fato do desconto já diz que o negócio é bom? Ou o "prêmio" cobrado sobre o valor patrimonial deixa a ação ou cota "cara" para comprar?


Nossa visão


Primeiro de tudo, não entendemos o investimento como "compra e venda" de ações e/ou fundos imobiliários. Entendemos como uma operação de investimento em um negócio no qual desejamos nos apresentar como sócios. Para isso fazemos um investimento e um desinvestimento de capital, se for o caso.



Parece que não faz diferença, sendo puramente semântica, mas faz uma baita diferença no mindset do investidor de longo prazo que objetiva a formação de uma carteira previdenciária.



Quando se fala em compra e venda, o preço toma uma proporção grande uma vez que o "lucro" está no momento da compra e não no momento da venda. 


Quanto mais barato você compra um bem COM O OBJETIVO DE VENDER, maior a margem de segurança e o seu lucro no final da operação.


Ao passo que ao iniciar um investimento, o seu olho está no RETORNO DO CAPITAL INVESTIDO (ROE), que é objeto de uma postagem futura (inscreva-se no Blog!).



O uso do indicador P/VP(a), na nossa visão, deve ser cauteloso e nunca deve ser usado solitariamente ou com um peso maior na decisão de negócio. Por mais que possa parecer, nem sempre comprar com desconto pode ser sinal de bom negócio.



No entanto, se o investidor acompanha a METODOLOGIA de avaliação de determinado FUNDO por um tempo (de preferência maior que um ano), ele consegue, mantendo-se a mesma metodologia de cálculo, entender se a FAIXA DE VP está ascendente ou descendente.



Com essa informação e o PREÇO PAGO NO ÚLTIMO NEGÓCIO REALIZADO, ou nos últimos negócios em meses, verifica o quanto os valores estão afastados do "centro" da faixa de VP, identificando o prêmio exigido em determinado momento (P/VPa) para investir naquilo que ele deseja. 



Sempre haverá prêmio: Ou você PAGA um prêmio (acima do VP) ou você RECEBE (abaixo do VP). O P/VP(a) não pode ser nunca um PONTO sem que ele esteja dentro de uma faixa.



Outro detalhe: Não serve para comparar fundos nem ações no nosso entendimento. Ele só serve para comparar o mesmo fundo em tempos diferentes. Para fazer esse tipo de comparação entre pares, são necessários outros indicadores muito mais voltados à eficiência do negócio.

Preço importa? Sim e não.


Sim, importa para saber se o prêmio exigido NO MOMENTO é o que você está de acordo a pagar. Se há um ágio para entrar no negócio, você está pagando a mais por alguma coisa. Procure saber qual.



Não importa se você está com uma visão de longo prazo no negócio e sabe que o prêmio de uma boa operação SEMPRE vai existir e, na média, você está satisfeito com um retorno que justifique. 

Se há um desconto, o negócio está pagando para você entrar nele por algum motivo. Procure saber qual.


Logo, não existe oportunidade na bolsa. Aliás, a única oportunidade na bolsa é a sua própria existência. Ela permite que nós, pequenos investidores, possamos participar de negócios muito maiores do que a nossa capacidade de investimento. 

O que se chama de oportunidade, para nós, nada mais é do que um bom negócio. Para que você faça um bom negócio no mercado financeiro, você deve comprar um ativo que, para você, o prêmio pago ou recebido na operação faça sentido naquele momento. Você consegue comprar um determinado ativo fazendo um bom negócio porque tem a oportunidade de participar do mercado de capitais.



Para fixar, deixamos um exemplo: 



É de conhecimento geral que o Honda Civic é um bom carro. Mas você está disposto a pagar R$ 300.000,00 em um Honda Civic 2012 por causa disso? Não. Você quer pagar PERTO da tabela FIPE.

Se estiver pouco rodado, você paga mais prêmio (acima da tabela) porque está em condição de novo, mas sabe que não é zero.

Se ele está "na faixa", aceita pagar a tabela.

Se está ruim, não aceita nem a tabela FIPE, ainda que o Honda Civic seja um bom carro.

TUDO tem um prêmio: Ou se PAGA ou se RECEBE. Poucas coisas estarão em um preço perfeito. Por isso o nome é PREÇO JUSTO.

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